Como identificamos a burrice na economia

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PhD Bertoncello

10/6/20253 min ler

A alocação de recursos com precisão é a chave para a prosperidade: igualar o custo de cada esforço ao impacto máximo de aumento de lucratividade foi a estratégia de John Rockefeller, que, aos dezesseis anos, era contador e se tornou o homem mais rico dos Estados Unidos na era industrial. Ele também promoveu bem-estar coletivo e prosperidade nos locais onde aplicou seus recursos — que eram sua riqueza e sua inteligência.

Agora que sabemos o caminho para o sucesso, vamos observar dois movimentos que mexeram com o Brasil: a falsificação de bebidas destiladas por empresas clandestinas, que aparentemente já atuam há muito tempo no país, e o aumento de impostos para a classe produtiva, que naturalmente vai repensar a alocação dos seus recursos no próximo ano.

Vamos compreender a lógica do falsificador de bebidas: ele aposta na incapacidade do consumidor final de identificar a diferença entre uma bebida boa e uma ruim. De forma simplificada, podemos exemplificar assim: pega-se um gin cuja garrafa custa R$ 50,00 e alteram-se os rótulos ou as próprias garrafas para que pareçam um gin de R$ 130,00. Mesmo considerando o custo dessa modificação, o criminoso obtém um lucro muito maior que o do fabricante. Provavelmente há a participação de bares, que alternam essas compras sem notas fiscais. Dessa forma, todos ganham, menos o consumidor final, que perde ao consumir um produto de baixa qualidade.

Mas falsificar essa garrafa utilizando metanol é uma alocação equivocada de recursos. Afinal, a ação chamou a atenção da polícia e da mídia, resultando em uma queda de 15% no consumo de destilados em apenas uma semana. Dessa forma, todos perderam: os falsificadores, os donos de bares, os fabricantes honestos, o governo, com a redução da arrecadação de impostos, e, principalmente, os consumidores que perderam a vida ou tiveram sua saúde comprometida. Agora, a pergunta:

Não seria a prova de burrice matar o cliente que garantiu lucro por anos de falsificação? Responderei a essa pergunta no final do artigo.

O segundo movimento ocorreu com o pedido do Governo Federal para sobretaxar em até 10% a renda de empresários que sabem gerar riqueza. A declaração do relator, o deputado Arthur Lira, foi alarmante: “Não teremos impostos para empresas superiores a 40% e para a pessoa física de 31%”. Imagine um empresário que vê sua empresa pagando 40% e, depois, na distribuição de lucros, pagar mais 31% na pessoa física. Restam apenas duas alternativas para esse empresário: repassar seus custos, caso o mercado consiga absorver os novos preços, ou deixar de exercer essa atividade e buscar outras formas de alocar seus recursos.

Quando os governos elevam demasiadamente a carga tributária, entram em uma zona de rendimentos decrescentes, como descreve a Curva de Laffer. De acordo com essa teoria, existe um ponto ótimo de tributação no qual a arrecadação é maximizada; acima desse ponto, cada aumento de imposto reduz os incentivos à produção, ao investimento e à formalização, estimulando evasão fiscal, sonegação e fuga de capitais.

Estaria o governo exercendo a burrice plena ao desafiar a Curva de Laffer? Chegou a hora de tentar responder a essas duas questões intrigantes, que parecem desafiar a lógica do lucro e da alocação otimizada de recursos, princípios que fazem a economia funcionar há séculos.

Me parece claro que o uso de metanol não foi feito pelos mesmos bandidos tradicionais da falsificação. Eles não têm caráter e estão à margem da legislação, mas há muito tempo vivem de vender bebidas “batizadas”, nunca envenenadas. Quem praticou esse ato no estado de São Paulo e, em menor proporção, em outros estados, tinha outros objetivos: provavelmente causar medo na população e gerar desconforto em políticos e agentes de controle. E, aparentemente, conseguiu, diante da incapacidade desses políticos e agentes de reprimir o crime.

E o governo não está preocupado com a arrecadação de impostos no longo prazo. Seu movimento tem como foco o curtíssimo prazo, em outras palavras, a eleição de outubro do ano que vem, mas trará consequências inevitáveis: a destruição do tecido socioeconômico e o enfraquecimento da classe média, que, essa sim, precisa agir. Meu conselho é claro: aloquem seus recursos financeiros e intelectuais de forma estratégica, para fugir do movimento político de caça às bruxas contra os empresários. Caso contrário, a burrice será sua.