Uma Partida de Futebol

Descrição do post.

Ph.D Bertoncello

7/28/20253 min ler

Os Estados Unidos estão ganhando o jogo com folga. Alguns países perdem de 1 a 0, como: Reino Unido, Japão, Indonésia, Filipinas, Vietnã e, agora, a União Europeia. Outros países estão praticamente com risco de goleadas, como: Canadá, México, Índia e China. E o Brasil, aparentemente, vai levar de sete a um novamente: com ataques ridículos, poder de negociação ínfimo e sem aliados externos, parece que nosso destino é perder.

Vamos aos fatos: os Estados Unidos, em 2024, importaram o valor total de US\$ 4,11 trilhões entre bens e serviços — o equivalente a quase 14% de toda a importação mundial — com uma população de aproximadamente 340 milhões de pessoas. Neste ano, a tarifa média praticada foi de 2,2%. Enquanto isso, a União Europeia representa 12% das importações globais, mas as trocas internacionais entre os países do bloco — com imposto zero — somam mais de 40% desse total. Assim, com 450 milhões de habitantes e uma tarifa externa próxima de 11%, a Europa se beneficiava do jogo antes da virada.

Agora, com o novo acordo, as tarifas entre Estados Unidos e União Europeia ficaram, em resumo, assim: os Estados Unidos aplicarão uma tarifa geral de 15% sobre a grande maioria das exportações da UE — incluindo automóveis, semicondutores e produtos farmacêuticos. Manterão ainda tarifas de 50% sobre aço e alumínio importados da UE, embora futuras negociações possam substituí-las por um sistema de cotas. Também continuam em vigor as tarifas específicas definidas pelas seções 232, como as sobre automóveis e peças (25%), implementadas anteriormente, mas passíveis de renegociação futura. No entanto, há também um regime “zero-for-zero” (sem tarifas bilaterais) para setores estratégicos como: aeronaves e peças, certos produtos químicos, medicamentos genéricos, equipamentos de semicondutores, recursos naturais e matérias-primas críticas.

A União Europeia concordou em não impor tarifas retaliatórias sobre exportações dos EUA abrangidas pelo acordo “zero-for-zero”. Como parte do pacote, a UE comprometeu-se a investir US\$ 600 bilhões nos EUA e a comprar US\$ 750 bilhões em produtos de energia americanos até 2027/2028, além de manter as tarifas praticadas em 2024, que giravam em torno de 12%. Em resumo: a União Europeia perdeu, mas perdeu de pouco.

Casos semelhantes aconteceram com o Japão, que pela primeira vez abriu o mercado agrícola sem tarifas para um país — os Estados Unidos — e prometeu investir bilhões de dólares nos próximos três anos. A tarifa de importação aplicada pelos EUA aos produtos japoneses será menor que a imposta à UE. Países como Indonésia, Filipinas e Vietnã também fecharam acordos parecidos, com tarifas reduzidas e sem compromissos de investimento. Até agora, o melhor acordo foi o primeiro, com o Reino Unido, onde os automóveis britânicos têm cotas com imposto zero para entrar nos EUA. Os ingleses conseguiram quase um placar de 1 a 1.

Os países que ainda estão correndo atrás são China, Índia, Canadá e México, todos fortemente dependentes das importações americanas, mas tentando negociar com alguma vantagem — que parece cada vez mais distante. A China era o único país que tinha um trunfo estratégico: as terras raras. Esse diferencial foi desmontado com investimentos pesados do governo americano em empresas nacionais com produção em território americano. Em outras palavras: fiquem atentos a estas empresas — MP, UUUU e NB —, pois o governo chinês pode dar adeus a esse trunfo a partir de 2026. Em resumo: os países acima terão negociações piores que os primeiros.

E, por fim, chegamos ao Brasil: mandamos senadores passearem de bermuda nos Estados Unidos, enquanto o presidente Lula continua ofendendo pessoalmente o presidente Trump. Internamente, temos uma inflação oficial de 5%, com alimentos subindo perto de 9%, além de um risco fiscal que traz dois pontos centrais: mantém a SELIC a 15%, o que destrói a economia nacional, e aumenta nossa dependência de investimentos externos, que em sua maioria vêm dos Estados Unidos.

Em resumo, temos um cenário sóbrio, que a sociedade ainda não entendeu. Parece que vai piorar muito antes de melhorar. E a pergunta que fica é: o resultado final será pior que o 7 a 1? Quais bancos, instituições e empresas estarão vivas depois da piora? Como chegamos ao ponto de termos políticos tão incapazes de negociar? E qual será a reação quando as tarifas e sanções piorarem ainda mais — sim, ainda pode piorar — por causa do alinhamento do Brasil com a Rússia?

Será que estamos diante de um plano deliberado de destruição da economia brasileira, ou apenas da incapacidade de gerenciar 220 milhões de brasileiros, que, por pensarem, foram classificados como “pequenos tiranos”? Como a população deve se proteger, com políticos tão irresponsáveis como os atuais?