Você sabe a relação de split payment, IBC-BR e recessão?

Ph.D Bertocello

9/15/20254 min ler

Vamos às definições individuais de cada uma destas três palavras. O split payment, segundo o dicionário de Oxford, é “um método de liquidação de uma única fatura ou compra dividindo o valor devido entre duas ou mais fontes de pagamento (por exemplo, usando mais de um cartão de crédito, combinando cartão + dinheiro ou reunindo contribuições de várias pessoas)”. Em outras palavras, trata-se de dividir o dinheiro em tempo real para mais de um destino,no caso brasileiro, para o comerciante e, inevitavelmente, para o governo, que não perde a chance de abocanhar sua parte antes mesmo de o cidadão receber a sua.

O IBC-BR (Índice de Atividade Econômica do Banco Central) é um indicador mensal criado pelo Banco Central do Brasil, com participação da Receita Federal, para medir a atividade econômica do país, funcionando como uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB). Ele é calculado com base nos impostos pagos pelos setores da indústria, comércio, serviços e agropecuária, considerando variáveis como produção física, vendas no varejo, consumo de energia elétrica e outras proxies de atividade econômica. Curiosamente, estamos diante de problemas estatísticos entre o IBC-BR e o PIB: no primeiro trimestre de 2025, o IBC-BR caiu 0,1% enquanto o PIB subiu 1,4%; já no segundo trimestre, o IBC-BR recuou 0,43% e o PIB avançou 0,4%. A mágica estatística do IBGE pode até tentar dourar a pílula, mas não é o tema deste artigo, o foco é a economia real, que o governo insiste em mascarar.

Uma recessão é confirmada quando o PIB real (ajustado pela inflação) apresenta crescimento negativo por pelo menos dois trimestres consecutivos, medido em comparação com o trimestre anterior (variação trimestral ajustada sazonalmente). Foi exatamente isso que ocorreu com o IBC-BR, mas, segundo o IBGE, “milagrosamente” não aconteceu com o PIB. No entanto, o número de empresas inadimplentes em 2025, em comparação a 2024, sugere de forma clara uma recessão, pois vem crescendo fortemente. Segundo dados do Serasa, a realidade das empresas contradiz a ficção estatística oficial, basta observar a tabela.

Agora vamos juntar os pontos: segundo a Receita Federal, o split payment será o mais moderno do mundo, enfim, seremos campeões mundiais em alguma coisa! O governo ainda afirma que o sistema será 150 vezes maior e mais poderoso que o PIX. Para efeito de comparação, o PIX, em horário de pico, processa mais de 3.000 transações por segundo; já o split payment teria a capacidade de monitorar mais de 450.000 notas fiscais por segundo. Uma façanha tecnológica usada não para facilitar a vida do cidadão ou do empresário, mas para ampliar o alcance do controle estatal sobre cada centavo que circula na economia.

A Receita Federal do Brasil (RFB) pretende utilizar o split payment como parte da implementação do novo Imposto sobre Bens e Serviços (IBS/CBS), previsto na Reforma Tributária (EC 132/2023 e LC 214/2025), a chamada “reforma tributária do Lula”. O teste começaria em 2026, com alíquotas simbólicas (0,9% para a CBS e 0,1% para o IBS), aplicado facultativamente em operações entre empresas. O Grupo Técnico 20 (GT-20), coordenado pelo Ministério da Fazenda com participação da Receita, Banco Central e entes subnacionais, está desenvolvendo o modelo que, segundo eles, será seguro, inovador e inédito no mundo. Para mim, trata-se da maior arma de repressão contra a atividade econômica de pequenas e médias empresas, pois o dinheiro do imposto nem sequer entrará no caixa da companhia. Como consequência, a inadimplência, os pedidos de recuperação judicial e a quebradeira generalizada tendem a se intensificar, enquanto o governo comemora mais um “avanço” à custa da sobrevivência do empreendedor brasileiro.

Vamos à resposta do título: a economia brasileira real está enfrentando graves dificuldades financeiras. Isso é notório no IBC-BR, que evidencia que, apesar do aumento da carga tributária, a arrecadação vem caindo. As empresas estão fechando as portas e o país já registra o recorde histórico de companhias inadimplentes. Assim, a recessão do mundo real não é uma previsão distante, ela já está acontecendo diante dos nossos olhos, enquanto o governo insiste em manipular narrativas para negar a realidade.

Mas o PIB continua subindo e, na visão do governo, a “verdade” é que os brasileiros e suas empresas estão sonegando cada vez mais. Para resolver o problema de caixa, a solução apresentada é o split payment, que eu carinhosamente apelido de “espião de pagamento”. Esse sistema vai separar a parte do governo antes mesmo de a empresa receber pelo serviço prestado ou pelo produto vendido. Assim, na narrativa oficial, deixaremos de ser vistos como sonegadores e, magicamente, tudo ficará bem, ao menos para os cofres do Estado, não para quem produz e sustenta a economia real.

Na realidade, as empresas no Brasil lutam diariamente para sobreviver. A grande maioria enfrenta um fluxo de caixa deficitário e precisa recorrer aos bancos em busca de capital de giro, arcando com juros abusivos. Esses juros são altíssimos por culpa de um governo gastador e de um oligopólio bancário sustentado pelo próprio Estado. Em resumo, os empreendedores brasileiros estão prestes a sofrer mais um duro golpe. Fica, então, a reflexão: por quanto tempo ainda suportaremos este cenário socioeconômico, marcado por uma política fiscal e monetária desastrosa e, por que não dizer, por este governo que insiste em punir quem trabalha e produz?