As narrativas não gostas dos números
Quer entender por que a China não só não derrubou o dólar como reforçou sua dependência dele? Leia o artigo e descubra o que os números realmente mostram.
PhD Bertoncello
4/17/20253 min ler


Por meses, o mercado financeiro foi inundado por especulações de que a China, uma das maiores detentoras de títulos do Tesouro americano, poderia vender suas reservas para desestabilizar o dólar e pressionar os Estados Unidos economicamente. Analistas sugeriram que tal movimento poderia abalar a hegemonia do dólar e causar turbulência nos mercados globais. Contudo, dados recentes do Departamento do Tesouro dos EUA, divulgados em fevereiro de 2025, desmentem categoricamente essas alegações. Longe de vender, China e Japão, dois dos maiores credores estrangeiros, aumentaram suas participações em títulos do Tesouro, sinalizando confiança na dívida americana e uma estratégia geopolítica mais complexa. Este artigo analisa esses números sob a ótica da educação econômica, destacando a importância de análises baseadas em dados, e explora os possíveis impactos no mercado global.
Em fevereiro de 2025, a China elevou suas participações em Treasuries em 3%, alcançando o valor de 784,3 bilhões de dólares. Esse crescimento ocorre mesmo diante das tarifas impostas pelos Estados Unidos, que superaram os 200% para alguns produtos chineses. A resposta chinesa, ao contrário do esperado confronto cambial ou financeiro, seguiu um caminho de estabilidade. Essa decisão, segundo analistas, pode refletir não apenas uma estratégia econômica racional, mas também um gesto diplomático, indicando que a China busca preservar canais de negociação mesmo diante do acirramento geopolítico.
O Japão também surpreendeu o mercado, aumentando em 4% sua posição em títulos do Tesouro e mantendo-se como o maior detentor estrangeiro desses papéis, com um total de 1,1259 trilhão de dólares. Diferente da China, o Japão optou por uma abordagem mais diplomática e alinhada, mantendo canais abertos de negociação com os Estados Unidos. Ainda assim, o movimento de compra de Treasuries indica que, mesmo os países mais pressionados pela política tarifária americana, preferem manter seus ativos denominados em dólar como forma de preservar reservas e garantir segurança diante das incertezas globais.
As participações estrangeiras como um todo subiram 3,4% no mês, totalizando 8,817 trilhões de dólares em títulos do Tesouro nas mãos de governos e instituições fora dos EUA. Esse dado confirma a força do mercado americano como destino seguro para capitais globais, mesmo sob circunstâncias políticas e econômicas adversas. A moeda norte-americana segue sendo o principal ativo de reserva internacional, e os títulos do Tesouro continuam a oferecer liquidez, segurança e previsibilidade, características essenciais para os bancos centrais do mundo todo.
Os dados também mostram comportamentos distintos entre outros detentores, com países como Suíça, Noruega, Alemanha e Arábia Saudita reduzindo suas posições, enquanto Japão e China ampliaram as suas. Esse contraste é uma oportunidade pedagógica: decisões econômicas variam conforme prioridades nacionais. Professores podem usar isso para ensinar aos alunos como comparar dados, explorando fatores como estabilidade cambial, relações comerciais ou pressões econômicas domésticas. No mercado global, a venda seletiva por alguns países pode pressionar marginalmente os rendimentos dos títulos do Tesouro, aumentando os custos de financiamento para economias dependentes de dívida em dólar. Por outro lado, a confiança demonstrada por Japão e China pode contrabalançar esses efeitos, mantendo a atratividade dos títulos americanos e sustentando a demanda global por ativos seguros.
Esse movimento de reafirmação do dólar como reserva global tem impactos diretos no mercado internacional. Primeiramente, reforça o custo de capital mais baixo para os Estados Unidos, que podem continuar financiando seu déficit fiscal com demanda sólida por seus títulos. Em segundo lugar, dificulta os esforços de outros blocos econômicos – como os BRICS – em promover alternativas ao dólar, uma vez que seus próprios membros continuam reforçando sua exposição ao sistema financeiro americano. Por fim, a estabilidade das reservas em dólar contribui para manter juros internacionais relativamente controlados e mitiga a volatilidade cambial em economias emergentes, que dependem do fluxo de capitais e da previsibilidade das reservas cambiais.
A conclusão que se impõe, portanto, é clara: as negociações entre potências continuam, as tarifas seguem em pauta, e os discursos políticos se intensificam. No entanto, os números mostram quem manda. A dependência global do sistema financeiro americano não apenas permanece intacta, como se reforça com cada dado oficial divulgado. A retórica da desdolarização pode gerar manchetes, mas os balanços dos bancos centrais demonstram outra realidade: os Estados Unidos ainda são o centro gravitacional da economia global.
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