Dia 2 vem a quebra da bolsa?
Analiso o risco crescente de uma recessão nos EUA e seus possíveis impactos globais, impulsionados por tarifas, incertezas políticas e queda na confiança dos agentes econômicos. Mostro como fenômenos aparentemente contraditórios exigem leitura estratégica e reforço que, em momentos como este, estar líquido, atento e disciplinado pode abrir grandes oportunidades de investimento — como vimos após outras grandes crises.
PHD Bertoncello
3/31/20255 min ler
A previsão de uma possível queda nas bolsas de valores e, por consequência, uma recessão nos Estados Unidos nos próximos dias, reacende preocupações relevantes sobre os rumos da economia global. Segundo análise recente do Goldman Sachs, os riscos de retração econômica aumentaram significativamente, impulsionados por incertezas nas políticas comerciais, pela queda na confiança de consumidores e empresários e pela expectativa de elevação nas tarifas de importação. Do ponto de vista analítico, é fundamental compreender que, em ambientes racionais, os agentes econômicos tomam decisões com base em fundamentos. No entanto, em contextos de incerteza crescente, esses mesmos agentes são suscetíveis a fenômenos como o FOMO (fear of missing out) ou efeito manada, abandonando a racionalidade em nome da reação imediata. Por isso, interpretar corretamente essas projeções e seus desdobramentos não é apenas um exercício técnico, mas um aprendizado indispensável para quem deseja antecipar impactos e formular respostas consistentes.
No dia 31 de março, o Goldman Sachs elevou de 20% para 35% a probabilidade de uma recessão nos Estados Unidos até meados de 2026. Essa revisão está ancorada em três fundamentos principais: (1) a reavaliação para baixo da tendência de crescimento da economia norte-americana; (2) a queda acentuada na confiança de famílias e empresas, o que compromete o dinamismo do consumo e do investimento privado; e (3) as declarações de membros da Casa Branca, que indicam uma maior disposição do governo em tolerar uma desaceleração econômica de curto prazo como estratégia para avançar sua agenda de política comercial. Esses elementos, quando analisados em conjunto, sugerem que estamos diante de um possível ponto de inflexão no ciclo econômico, o que exige atenção crítica e capacidade de antecipação por parte de investidores, formuladores de políticas e estudiosos da economia.
Quais seriam os elementos que poderiam desencadear essa recessão? Entre os principais fatores de pressão destaca-se o aumento das tarifas de importação. A expectativa é que a tarifa média aplicada pelos Estados Unidos atinja 15%, um salto expressivo frente ao patamar atual, que gira em torno de 4%. A estratégia de tarifas recíprocas, anunciada pelo presidente Donald Trump e prevista para o dia 2 de abril — data que ele tem chamado de “dia da libertação” —, tende a intensificar a pressão inflacionária, ainda que inicialmente de forma pontual. Alguns setores já foram mencionados como alvos diretos dessas tarifas, com destaque para automóveis, aço e alumínio, cujas alíquotas podem chegar a 25%. Esse movimento, além de elevar os preços internos, deve gerar um excedente nos países exportadores, pressionando cadeias globais de oferta e exigindo rápida capacidade de adaptação dos agentes econômicos.
Diante desse cenário, teremos a ocorrência de fenômenos simultâneos que o mercado, tradicionalmente, não está habituado a lidar, justamente por parecerem contraditórios. Entre eles, podemos observar: a redução nas projeções de crescimento do PIB ao mesmo tempo em que o PMI (Índice de Gerentes de Compras) permanece acima de 50 pontos, indicando expansão da atividade; o aumento da inflação do núcleo do PCE (Personal Consumption Expenditures) concomitante ao ganho real de poder de compra dos empregados; e, ainda, a queda das bolsas americanas acompanhada de um aumento nos lucros corporativos. Esses movimentos, à primeira vista paradoxais, exigem uma leitura mais aprofundada da dinâmica econômica atual, marcada por choques assimétricos, reconfiguração de cadeias produtivas e realocação de expectativas entre os agentes econômicos.
Possíveis próximos passos e as soluções
O novo cenário delineia um provável desaquecimento econômico que tende a impactar, de forma mais intensa, as economias fortemente integradas às cadeias globais de valor e com alta dependência das exportações para os Estados Unidos. Países como Alemanha, Canadá, China, Coreia do Sul, México e Japão devem sentir os efeitos de maneira mais acentuada. A elevação das tarifas reduz o dinamismo do comércio internacional, desestimula o intercâmbio produtivo e pressiona os custos de insumos e produtos finais, afetando tanto a competitividade quanto o consumo global. Esse movimento, portanto, não representa apenas uma mudança conjuntural, mas sim um desafio estrutural para a economia internacional.
Dentro dos Estados Unidos, o aumento pontual de preços deverá atrair diversos agentes econômicos interessados em ofertar os produtos com maior rentabilidade. Considerando que o preço é, por excelência, o sinal mais eficaz para a alocação de recursos em uma economia de mercado — e que a sociedade americana possui uma dinâmica mais ágil e flexível do que a maioria dos países, em função de sua ampla liberdade econômica —, é razoável supor que essa pressão de preços não será contínua, mas sim temporária. Afinal, não estamos diante de uma inflação provocada por perda do valor monetário (inflação de demanda), mas sim de uma inflação de custos, causada por choques externos e aumento pontual de tarifas. Esse tipo de inflação, historicamente, tende a ser corrigido pelos próprios mecanismos de mercado, por meio do aumento da oferta e da realocação eficiente dos fatores de produção.
Para investidores e gestores, a aprendizagem está justamente na capacidade de interpretar os sinais macroeconômicos e reavaliar, de forma constante, suas estratégias de alocação. Em contextos marcados por incertezas cambiais, inflacionárias e comerciais, proteger o capital exige visão sistêmica e ações proativas. A história econômica demonstra que, mesmo em cenários adversos, a antecipação e a adaptação permanecem como os principais diferenciais competitivos. Por isso, devemos estar atentos às oportunidades que podem surgir em dois possíveis desdobramentos: o primeiro, de curto prazo, marcado por distorções e volatilidade; e o segundo, de médio prazo, no qual os fundamentos econômicos tendem a se reequilibrar, abrindo espaço para ganhos mais consistentes.
O primeiro passo será marcado por uma desvalorização generalizada dos ativos de renda variável, motivada principalmente pela incerteza e pelos ruídos de mercado. Nesse momento, a postura mais prudente é permanecer totalmente líquido, aguardando a acomodação dos preços e evitando decisões impulsivas. Já o segundo passo ocorre após essa estabilização inicial, quando será possível compreender com maior clareza a nova trajetória dos ativos, levando em conta os preços básicos ajustados, a lucratividade projetada das empresas e seus respectivos preços-alvo. Esses elementos, por sua vez, estarão diretamente relacionados à taxa de juros básica, que, em momentos de crise, tende a sofrer cortes como instrumento de estímulo econômico. A compreensão dessa lógica é fundamental para a tomada de decisões informadas e racionais em ambientes de transição.
Por esse motivo, acredito que estamos diante de uma excelente oportunidade de investimento — semelhante àquelas observadas após os ciclos de crise dos anos 2000, 2008 e 2020. O segredo está em manter-se atento, líquido e preparado para agir no momento certo. A história nos ensina que os grandes movimentos de valorização ocorrem justamente quando a maioria ainda hesita. A disciplina, aliada à compreensão dos fundamentos, é o que diferencia o investidor comum do investidor estratégico.
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