Nem tudo é narrativa Lula
Analise do impacto das novas tarifas impostas pelos EUA sobre as exportações brasileiras, destacando os efeitos diferenciados por setor com base na elasticidade da demanda. Defende que a resposta do Brasil deve ser a abertura de mercado e a redução de impostos, não a negação dos fatos.
PhD Bertoncello
4/9/20255 min ler


Nota Detalhada: Análise do Impacto das Tarifas Americanas.
O futuro da balança comercial brasileira está sob intenso escrutínio diante das tarifas impostas pelos Estados Unidos em 2025, uma política que ameaça desestabilizar as exportações brasileiras para o maior mercado do país. Em meio a esse cenário, o presidente Lula tem adotado uma postura de confiança, afirmando que o Brasil tomará "todas as medidas necessárias" para se defender, enquanto critica o protecionismo como algo que "não ajuda nenhum país no mundo". No entanto, essa retórica pode subestimar o impacto real do mercado americano, que representa 12,14% das exportações totais do Brasil, totalizando US$40,92 bilhões em 2024 (Trading Economics, 2025). A complexidade das relações comerciais e a sensibilidade dos diferentes setores à mudança de preços demandam uma análise mais profunda para compreender os efeitos reais dessas tarifas.
Para entender como as tarifas afetam as exportações brasileiras, é essencial analisar a elasticidade-preço da demanda, um conceito central na economia que mede a sensibilidade da quantidade demandada de um produto em relação a mudanças em seu preço. A elasticidade é crucial para avaliar como as tarifas impactam diferentes setores: produtos com demanda inelástica podem sofrer menos redução na quantidade vendida, enquanto produtos com demanda elástica podem ver uma queda significativa nas exportações. Por exemplo, produtos como petróleo, que são essenciais e têm poucos substitutos, tendem a ter demanda inelástica, enquanto bens como automóveis, com muitas alternativas, podem ter demanda elástica. Essa variação é fundamental para prever os efeitos das tarifas, especialmente considerando que um aumento de preço devido a tarifas pode reduzir a competitividade no mercado americano.
Diferentes Taxações e Reações Variadas: O Papel da Elasticidade
As exportações brasileiras para os EUA enfrentam taxas diferenciadas, o que, combinado com a elasticidade da demanda, resulta em impactos desiguais nos diversos setores. Produtos como aço e alumínio são taxados em 25%, enquanto o setor automotivo (carros e autopeças) também enfrenta essa mesma alíquota. Já café, celulose e carne bovina sofrem uma tarifa de 10%, e setores como petróleo, madeira, produtos químicos inorgânicos e pedras preciosas estão isentos (0%) (Exame, 2025). A elasticidade da demanda varia entre esses produtos. Por exemplo, para o café, estudos indicam uma elasticidade-preço da demanda de aproximadamente -0,39 para as exportações brasileiras, sugerindo demanda inelástica (Todorova, 2010). Isso significa que um aumento de 10% no preço devido à tarifa levaria a uma redução de apenas 3,9% na quantidade demandada, um impacto relativamente pequeno. Em contraste, produtos como automóveis podem ter demanda mais elástica, especialmente se houver substitutos de outros países, o que poderia amplificar o efeito negativo das tarifas.
Para ilustrar, consideremos os números:
• Aço: Exportações de US$4,1 bilhões em 2024, tarifa de 25%. Se a elasticidade for -0,7 (hipótese de demanda inelástica), um aumento de 25% no preço levaria a uma redução de 17,5% na quantidade demandada, resultando em uma perda estimada de US$717,5 milhões.
• Café: Exportações de US$2,503 bilhões, tarifa de 10%, elasticidade de -0,39. Um aumento de 10% no preço reduziria a quantidade demandada em 3,9%, resultando em uma perda de US$97,6 milhões.
• Automotivo: Exportações de US$2,235 bilhões (autopeças US$1,6 bilhão + carros US$0,635 bilhão), tarifa de 25%. Se a elasticidade for -1,5 (hipótese de demanda elástica), a redução na quantidade demandada seria de 37,5%, levando a uma perda estimada de US$838,1 milhões.
Impacto na Pauta Exportadora e na Balança Comercial
Considerando esses fatores, o impacto das tarifas sobre a pauta exportadora brasileira será desigual. Setores com demanda inelástica, como café e possivelmente aço e alumínio (devido à sua importância como insumos industriais), podem experimentar reduções menores nas exportações. Já setores com demanda mais elástica, como automotivos, podem sofrer quedas mais significativas. Em números, as exportações totais do Brasil para os EUA em 2024 foram de US$40,92 bilhões, representando 12,14% das exportações totais do país (Trading Economics, 2025). Uma redução nessa fatia pode afetar diretamente a balança comercial brasileira, que registrou um superávit de US$74,5 bilhões em 2024 (Secretaria de Comunicação Social, 2025). Além disso, se as exportações diminuírem, isso pode levar a uma menor demanda por dólares, potencialmente desvalorizando a moeda brasileira e afetando a economia como um todo.
Para detalhar, a tabela abaixo mostra o impacto estimado:


Total estimado de perda: US$1,948 bilhões, o que representa cerca de 4,76% das exportações totais para os EUA
Empresas Exportadoras e o Impacto no Faturamento
As principais empresas brasileiras exportadoras serão afetadas de forma variada: a Petrobras não terá nenhum impacto, mas as empresas exportadoras de aço como as ArcelorMittal, Gerdau e CSN por este padrão de elasticidade pode ter perda estimada em US$717,5 milhões, a Albras exportadora de aluminui pode perder, US$46,7 milhões, enquanto as empresas automotivas, estima-se que US$838,1 milhões não seja exportado. Apesar de produtos agricolas serem mais inelasticos e terem uma tarifa menor as empresas de exportadoras de café devem perder aproximadamente US$97,6 milhões, empresas como Suzano e Klabin que exportam celulose podem ter uma queda de US$100 milhões nas exportações e o setor da carne encabeçados por JBS e Minerva devem ter uma perda estimada em US$148 milhões
Esses números mostram que empresas em setores com tarifas altas e demanda elástica, como automotivos, enfrentam os maiores desafios, enquanto setores isentos ou com tarifas baixas têm impactos menores.
Portanto, as tarifas não são uniformes, como sugerido por parte da imprensa. Elas têm efeitos diferenciados por setor, por produto e por empresa, dependendo da elasticidade da demanda e da participação do mercado americano em suas receitas. Os efeitos econômicos se espalham em cadeia, atingindo empresas, empregos, cadeias produtivas, municípios exportadores e contas públicas. Diante disso, a resposta adequada não é negar o impacto, nem propor retaliações ou isolamento comercial. O caminho realista e inteligente seria usar o episódio para abrir o debate sobre a redução de impostos internos, a diversificação de mercados e a ampliação da produtividade da indústria brasileira.
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